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Intercâmbio: os relatos de uma experiência internacional

Intercâmbio: os relatos de uma experiência internacional

De Estados Unidos à Nova Zelândia, intercambistas brasileiros relatam como decidiram fazer intercâmbio e quais foram suas maiores dificuldades.

As viagens educacionais ao exterior tornaram-se recorrentes na vida estudantil e educacional de diversos jovens. Esse fenômeno de intercâmbios, porém, não começou com a nova geração. Segundo a  Rotary International, agência especializada no ramo, os primeiros intercâmbios surgiram em 1929, ocorrendo exclusivamente no continente europeu.

Com o passar dos anos, empresas especializadas surgiram para tornar essa prática mais comum em outros países, tornando a prática global. Os intercâmbios logo se tornaram uma opção viável para jovens estudantes que quisessem sair de sua zona de conforto e imergir em outras culturas, aprimorando a fluência e contato com outros idiomas.

Essa prática de intercâmbios varia desde concluir o ensino médio em outro país a cursar uma universidade estrangeira, sendo escolha do intercambista a duração e a finalidade da viagem.

Para entender melhor as razões e as dificuldades dessa experiência internacional, foram entrevistados intercambistas brasileiros que já concluíram ou ainda estão em intercâmbio para responderem mais sobre o processo de escolha dessa viagem e contar sobre as experiências que adquiriram.

 

Estados Unidos – Aline, Felipe e Julia

Por motivos diferentes, esses três jovens decidiram os Estados Unidos como destino, incentivados pela cultura e conhecimento prévio do país. Aline sonhava em ver de perto o que via nos filmes de escola americana que tanto gosta, então decidiu passar um ano em Hesperia, uma pequena cidade da Califórnia. Felipe buscou a independência no aprendizado e na vivência também na pequena cidade de Dewitt, Arkansas. Enquanto Julia decidiu voltar e viver mais intensamente a viagem que já havia feito, revisitando Boca Ratón, na Flórida, mas com maior duração dessa vez.

Como é constantemente retratado em filmes e séries, as escolas do país carregam a fama de bullying e violência herdados pelo cinema. Então, perguntamos a eles como foi fazer amizades com pessoas totalmente diferentes em um ambiente novo.

Aline: “Olha, aqui é difícil fazer amizade com o pessoal. Como tem muitos descendentes de mexicanos no meu colégio, foi um pouco mais fácil porque eles são bem mais acolhedores.”

Felipe: “A dica que eu dou é, quando você entrar na escola, procure um esporte para praticar. Fiz futebol americano e virei amigo de todo mundo na escola. Meu intercâmbio não teria sido o mesmo se eu não tivesse jogado futebol americano.”

Para Julia, entretanto, a maior dificuldade não foi fazer amigos, mas se adaptar à escola em si.

Julia: “A escola pra mim foi um pouco difícil (…), me adaptar à diferença de horários das aulas e o jeito dos professores de ensino!”

Mas o que parecia assustador e desconhecido, ao passar dos meses, foi se tornando rotina e logo virou saudade. Os Estados Unidos que eles tanto veem nos filmes está marcado para sempre em suas memórias e trouxe a eles histórias que serviriam para seus próprios filmes.

E com toda essa experiência, eles deixam seus conselhos aos que pretendem começar a jornada de intercâmbio, pensando no que diriam para eles mesmos do começo da viagem.

Aline: “Amiga, muda a aula de matemática. Brincadeira! Eu diria que vai ser difícil, mas aproveite cada segundinho!”

Felipe: “Não tenha medo de falar, seja você mesmo porque vão te aceitar do seu jeito e aproveite cada segundo porque infelizmente esses momentos não vão voltar mais…”

Julia: “(…) Eu acho que eu diria para dar mais atenção pra minha família de lá e me dedicar mais no trabalho! Eu amei muito meu intercâmbio, fiz tudo o que eu tive vontade, aproveitei ao máximo, super aberta pra tudo! Então acho que não tem muita coisa que eu diria ou mudaria!”

 

Austrália e Nova Zelândia – Victoria M. e Victoria S.

Além do nome, as duas compartilham a mesma duração de viagem – 1 ano. Foram doze meses de muito aprendizado e imersão cultural na Oceania, em dois países muito diferentes da terra natal, Brasil.

Tão famosos por suas paisagens naturais exuberantes, fauna e flora exclusivas, povos acolhedores, esses dois países se tornaram um destino interessante para a maior experiência cultural dessas duas jovens que atravessaram o mundo sozinhas e voltaram querendo mais. E surgem as perguntas: O que te convenceu de fazer intercâmbio? De onde veio esse interesse? Por que escolheram esses lugares?

Victoria M.: “Eu sempre quis fazer intercâmbio, ficava encantada quando conversava com minhas amigas que foram fazer. Eu nunca quis fazer nos Estados Unidos, mesmo eu amando lá. Queria um lugar diferente, um paraíso! E meu sonho sempre foi ir para a terra do canguru, então eu fui na STB (Student Travel Bureau) e eles super me indicaram Austrália.”

Quanto à outra Victoria, os critérios da escolha foram bem diferentes.

Victoria S.: “Eu sempre quis fazer intercâmbio ou morar fora, então eu mesma me convenci. E eu escolhi a Nova Zelândia porque eu queria ir para um lugar que tivesse sotaque porque eu acho muito lindo. Fiquei entre Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Mas as outras opções eram todas muito caras e eu acabei ficando entre as duas últimas. Optei por Auckland, Nova Zelândia, depois de pesquisar sobre e ver que tudo na Austrália quer me matar e na Nova Zelândia não, basicamente.”

Em países como esses, é normal pensar nas dificuldades que elas enfrentaram em seus intercâmbios. Mas, surpreendentemente, a fauna perigosa não foi uma delas. No entanto, a Austrália tinha tantas novidades para mostrar que acabou se tornando um obstáculo para Victoria, que estava acostumada com outra rotina.

Victoria M.: “A saudade da família e me adaptar em um lugar totalmente diferente foram as maiores dificuldades que eu tive no começo. Pensei até em desistir. A dica que eu dou para quem quer ir para outro país é nunca desistir, não ter vergonha de errar a língua, se jogar de cabeça mesmo porque no final tudo vai ter valido a pena.”

Mais ao leste, um dos motivos para a jovem Victoria ter escolhido a Nova Zelândia, foi justamente uma de suas maiores dificuldades durante a viagem.

Victoria S.: “Entender o sotaque! (risos) Demorou uma semana para eu conseguir entender tudo que eles falavam porque falam muito rápido e o sotaque é muito forte lá. Também foi pro coração aguentar de saudades do Brasil porque eu estava meio que namorando na época que viajei, foi f***. E a maior dificuldade de todas, sem dúvida, foi me despedir pra sempre, teoricamente, das pessoas maravilhosas que eu conheci lá porque é diferente de se despedir das pessoas do Brasil só por um ano. Minha dica é medicação pro efeito colateral só porque o problema mesmo não tem como resolver: manter contato e fazer de tudo para visitar.”

As terras de bandeiras parecidas foram cenário para o intercâmbio de duas Victorias que sentirão saudade do ano que passaram longe de casa e não esquecerão dos momentos vividos e amizades que vão durar por muito tempo em suas memórias.

 

Canadá – Carolina

Canadá. O país que testemunhou o nascimento de tantas estrelas do cinema e astros da música; como Ryan Reynolds, Ryan Gosling, Keanu Reeves, Céline Dion, Justin Bieber, Drake, e tantos outros que nem cabe listar todos. Além de toda essa bagagem cultural que migrou para o vizinho, Estados Unidos, é um importante país da América do Norte.

Famoso por sua natureza rica em paisagens naturais e por ser um país multicultural, o Canadá esbanja estereótipos sobre suas terras e cidadãos. E são poucos os que puderam conhecer tudo tão de perto como Carolina fez.

Em apenas um mês de intercâmbio, a estudante encontrou uma brecha em suas férias de julho no Brasil para conhecer uma porção do país, Vancouver. A cidade portuária da Columbia Britânica já foi cenário para muitas gravações de produções hollywoodianas e abriga uma diversidade étnica em mais de meio milhão de habitantes (segundo dados de 2017, da ONU).

Carolina: “Eu sempre quis ter a experiência de viajar sozinha. Muita gente vai pelo inglês. Esse não foi o meu caso. (…) Eu fui lá para conhecer uma experiência nova, me adaptar sozinha, me virar sozinha. Ter um mês só para mim, só fazendo o que eu quero. Um lugar novo, pessoas novas, experiência totalmente diferente. Sempre amei viajar, então sempre quis fazer [intercâmbio].”

Segundo pesquisa da Quero Bolsa, o Canadá é o destino mais procurado atualmente entre os intercambistas brasileiros, ultrapassando Estados Unidos e Inglaterra. O baixo custo, alta qualidade de vida, possível imigração, vida urbana e natureza exuberante são apontados como fatores principais para atrair estudantes estrangeiros ao país. Dentre as cidades mais comuns, estão Vancouver, Toronto e Montreal.

Porém, o processo de escolha de Carolina foi um pouco mais peculiar que a maioria dos intercambistas. Como sua estadia era mais curta que a média, aproveitou o mês no país norte-americano para satisfazer suas necessidades de fã e assistir ao show do ídolo, enquanto ele não passava pelo Brasil.

Carolina: “Eu não queria ir para os Estados Unidos. (…) E pensei: Inglaterra é caro, Austrália é longe, tem que se falar inglês, tem… Canadá. (…) E eu fui ver em quais cidades o Harry Styles estaria fazendo a turne dele, em julho. E nossa… ele estaria fazendo em Vancouver. (…) Eu fiquei em dúvida entre Toronto e Vancouver. Só que Toronto é só a cidade. E Vancouver mescla tudo que eu gosto, que é cidade grande com natureza, então tem praia, cidade grande e uma paisagem natural ao fundo. Fiquei apaixonada.”

Mesmo com menor duração, comparado aos outros intercambistas, Carolina viveu muitos perrengues que hoje considera engraçados e aprendeu um pouco mais sobre a cultura canadense nas poucas semanas que viveu por lá, além de conhecer lugares inusitados.

Carolina: “A minha dica é pesquisar muito bem antes o lugar que você está indo porque eu fui com muita gente que não tinha pesquisado nada e, literalmente, só iam ao shopping, quando eu sabia todos os passeios, lugares fora de Vancouver que eram incríveis e eu que levei todo mundo porque ninguém tinha pesquisado nada. Então, eu levava o pessoal para umas viagens fora, de uma hora e meia, que a gente chegava lá e falava ‘que lugar perfeito’. (…) E se permita viver, aproveitar tudo, várias experiências novas.”

Para uma experiência curta, Carolina conseguiu viver ao máximo e trazer em sua viagem de volta ao Brasil muitas lembranças boas de Vancouver e amigos brasileiros que conheceu durante seu intercâmbio.

Independente do tempo, é o intercambista que faz de seu intercâmbio uma experiência única e inesquecível. Basta vivê-la como se permitir.

~ Saturno

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